Entrevista do Secretário de Governo ao ‘The Economic Report’.

Categoria: Geral | Publicado: terça-feira, novembro 26, 2019 as 17:27 | Voltar

Aproximadamente do tamanho da Alemanha, mas com uma população de apenas 2,7 milhões, o estado brasileiro de Mato Grosso do Sul há muito atrai visitantes por causa de sua beleza natural intocada. Depois de passar por um período difícil, sua economia agrícola está voltando graças à adoção de tecnologia de alto rendimento e baixo impacto e à crescente demanda de países como a China, que também é um grande investidor na região. O funcionário do Estado Eduardo Riedel discute as oportunidades atraentes de investimentos em agricultura de alta tecnologia, infraestrutura, energia solar e turismo

Qual é a conexão entre as economias do Brasil e da China?

Eu acho que é um casamento perfeito do ponto de vista econômico. A população da China é de quase 1,5 bilhão, dos quais 750 milhões não vivem em cidades, mas pelo menos em parte migram para aumentar sua renda. Essas pessoas vão exigir muita comida. E não é apenas a China; esse mesmo processo está apenas começando na Índia. As duas economias são muito complementares: nosso setor agrícola é altamente eficiente, assim como a produção de insumos e a industrialização de nossas cadeias produtivas. Esse é o tipo de coisa que a China exige, e nós crescemos muito por causa dessa demanda. Incorporamos com competência a tecnologia adequada e desenvolvemos um modelo econômico vencedor com baixo impacto ambiental. É importante ressaltar esse ponto, porque muitas pessoas vinculam o setor agrícola à degradação ambiental, o que simplesmente não é verdade. Quanto à infraestrutura, a China é um participante importante, se não o mais importante. Tenho visto o interesse de empresários chineses, funcionários do governo e outros líderes, mas existe a questão prática de poder transpor nossas barreiras naturais.

A China tem feito isso com bastante sucesso na África, onde leva seu conhecimento e seus trabalhadores. Por que isso não pode acontecer no Brasil?

Aqui temos fortes leis ambientais, trabalhistas e tributárias. O primeiro problema que o Grupo BBCA, uma empresa chinesa de alta tecnologia, encontrou foi quando tentou trazer 50 trabalhadores da China, mas não conseguiu. Não quero dizer que, como crítica, é apenas uma análise dos fatos. Com base no pouco que sei sobre o povo chinês, sei que eles são muito pacientes e tolerantes, e acho que estão aprendendo a lidar com o Brasil. Ao mesmo tempo, nós mesmos estamos entendendo sua própria cultura e costumes. Eu acho que tudo isso faz parte do processo de reunir duas culturas muito diferentes. O problema é que nosso ambiente de negócios não é tão competitivo para investimentos. Isso faz parte do que precisamos fazer para tornar o clima de negócios mais amigável.

Onde os investimentos chineses podem ser mais bem-sucedidos?

Eu acho que há um grande potencial nas empresas que processam insumos agrícolas. Poderíamos falar do processamento de etanol a partir do milho, e também há o investimento do BBCA em uma linha de processamento de ácido milho-ácido lático-ácido polilático, um bioplástico feito de milho. Eventualmente, acredito que também poderia haver capital chinês na indústria de carne, a saber, carne bovina e suína. Recebo telefonemas toda semana de um amigo que me diz: "Estou na China e conversei com um empresário aqui que disse que quer algumas milhares de toneladas de frango". Esse tipo de coisa acontece o tempo todo e prova que há uma demanda latente. Os canais estão lá e estão abertos. Não precisa necessariamente passar por grandes exportadores.

Os diplomatas estão promovendo o agronegócio brasileiro na China, e o feedback deles é que as pessoas ainda sabem muito pouco sobre o Brasil. O que você acha que está falhando na comunicação com a China?

Acho que devemos ter uma postura mais agressiva, tanto em público quanto em privado. Acho que algumas empresas conseguiram vender seus produtos, mas não foram lá para vendê-los. Tem sido um processo muito passivo: alguém bateu à sua porta. Ainda não estabelecemos uma estratégia de vendas mais estruturada. Acho que nosso relacionamento com a China é relativamente novo, mas está avançando. Por exemplo, agora temos escritórios de advocacia brasileiros na China e escritórios chineses aqui. Isso desencadeia o surgimento de um mundo que desconhecíamos completamente há apenas 15 anos.  

O peso que a China tem na economia do Mato Grosso do Sul é tal que algumas pessoas estão preocupadas. Costuma-se dizer que, se um parceiro espirra, o menor fica resfriado. Você tem alguma preocupação em estender ainda mais essa parceria com a China?

Não. Eu costumava ter essa preocupação, mas o Mato Grosso do Sul diversificou sua economia, e isso ocorreu em parte por causa da demanda chinesa. Por exemplo, a cadeia de produção de papel e celulose se desenvolveu enormemente em Três Lagoas, lar de duas das maiores fábricas de celulose do mundo e agora a capital da celulose no Brasil. E um terceiro moinho está a caminho. Para onde vai toda essa celulose? Uma grande porcentagem vai para a China. Portanto, existe um nível de dependência, mas sem a demanda deles, não teríamos tido os investimentos em primeiro lugar. A demanda chinesa permitiu nosso desenvolvimento e crescimento, e éramos competitivos e capazes o suficiente para estruturar isso. Se algo acontecer com a China, nossa capacidade de gerenciamento terá que lidar com isso, mas não considero isso um fator determinante. Se a China espirrar, o mundo inteiro ficará resfriado.

Uma nova geração de jovens agricultores está usando novas tecnologias criadas especialmente para a agricultura. Como você acha que a inovação pode ajudar o desenvolvimento do Mato Grosso do Sul?

A tecnologia terá um impacto fenomenal no setor agrícola, como em todos os outros setores. Na verdade, já existe. Todas essas idéias - como a Internet das Coisas, inteligência artificial, automação etc. - estão sendo aplicadas ao setor agrícola em maior ou menor grau. Os sistemas agrícolas no Brasil são altamente heterogêneos em tamanho, insumo, modernização e renda. Embora muitos produtores não pareçam ter renda suficiente para absorver tecnologias disruptivas, no entanto, a mudança está acontecendo. Vemos exemplos disso o tempo todo nas diferentes cadeias de produção: gado, leite, frango, porco, agricultura. Até 10 anos atrás, não havia eletricidade nas fazendas, mas hoje as fazendas modernas têm as tecnologias mais modernas e atualizadas que estão tirando os agricultores de um mundo de dúvidas: Ao analisar dados coletados de sensores, satélites, drones, aplicativos e previsões meteorológicas localizadas, os agricultores podem rastrear a saúde das culturas, tomar decisões de plantio ou direcionar o uso de fertilizantes para melhorar a eficiência e diminuir o impacto no meio ambiente. Os agricultores estão conectados hoje, e isso tornará suas vidas muito mais fáceis. Se você visitar uma fazenda moderna aqui no Mato Grosso do Sul, verá que elas estão conectadas.

Nos próximos anos, o Brasil terá uma demanda crescente por energia. Como você vai lidar com isso no Mato Grosso do Sul?

Eu acho que a energia solar é uma das possíveis soluções para o desenvolvimento de energia. Já é uma realidade em nosso estado, onde as condições para a energia solar são ótimas. Também é muito interessante do ponto de vista do retorno do investimento. Tenho certeza de que haverá muitas pequenas usinas solares em fazendas no Mato Grosso do Sul para alimentar seu consumo de energia. São principalmente pequenas unidades que produzem energia suficiente para esse negócio específico.

Como você diferenciaria seu estado dos outros?

Nosso estado possui abundantes recursos naturais e sistemas de produção muito modernos e sustentáveis. Do ponto de vista tecnológico, somos capazes de produzir e manter esses recursos naturais. Temos três biomas diferentes: Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, e outro setor que poderia representar uma grande oportunidade para a China é o turismo. Campo Grande é a porta de entrada para a região do Pantanal e Bonito. Há potencial no agroturismo: viajar pelo estado visitando as fazendas e aprendendo sobre nossa cultura e estilo de vida. Muitas pessoas querem saber sobre isso, e algumas fazendas já se especializam nisso.

É um pouco como as diferentes culturas que podemos encontrar no Corredor Bioceânico?

Sim. “67” é o código de área para Mato Grosso do Sul, e lançaremos a Rota 67, que é a rodovia bioceânica, começando em Campo Grande. De lá, você dirige para Porto Murtinho, atravessa a ponte para o Paraguai, atravessa o norte do Paraguai, atravessa a Argentina e sobe os Andes. Esta é uma rota maravilhosa que leva você a diferentes culturas, música e comida em algo como dois dias.

O que você acha que o futuro reserva para o seu estado?

Eu sou muito otimista. Passamos pela crise econômica mais importante da história brasileira durante o primeiro mandato do governador Reinaldo e conseguimos sobreviver. Atualmente, o agronegócio é o grande impulsionador da economia brasileira, e nos destacamos nisso. Quando você olha para os números, São Paulo e Rio de Janeiro perdem proporcionalmente muito mais do que perdemos. Mas perdemos e nossa economia sofreu. As taxas de juros foram baixas, faltaram investimentos, o consumo caiu. Talvez um dos nossos maiores problemas que temos aqui é que a população do estado é pequena, portanto nosso consumo interno é baixo. Isso significa que precisamos atrair mais pessoas aqui, pois continuamos exportando produtos, matérias-primas, turismo e serviços.

Se as pessoas quiserem vir trabalhar aqui, serão bem-vindas?

Sim. Eles serão muito bem-vindos aqui. Somos 2,7 milhões de pessoas vivendo no estado, pouco mais de 1% da população brasileira. O estado de São Paulo, em comparação, tem 40 milhões de pessoas. Nossa população é muito baixa, então nosso nível de consumo também é baixo. No entanto, nosso Índice de Desenvolvimento Humano é bom e desfrutamos de muito boa qualidade de vida, ar puro, boas condições de trabalho e serviços e muito mais. Fizemos a lição de casa e a economia está voltando à vida agora.

Para quais tipos de projetos você está buscando investimento?

Temos muitos projetos em andamento com investidores privados que ajudarão o estado a se desenvolver ainda mais. Também temos um importante pacote de desenvolvimento de infraestrutura, e é aí que entra nossa estratégia de atrair capital privado. Nossa empresa de saneamento começará no próximo ano por meio de um contrato de parceria público-privada (PPP), que representa R $ 1 bilhão em investimentos. Ainda não há rodovias com pedágio, mas isso mudará em breve; nossa primeira concessão de rodovia, B3, será anunciada em dezembro na Bolsa de Valores de São Paulo. Esta é uma oportunidade para os investidores: é uma concessão de 30 anos para um trecho de 220 km de uma rodovia que poderia interessar chineses, americanos ou europeus ou uma combinação deles, seja com o parceiro certo aqui no Brasil ou por si mesmos. E há muitas outras oportunidades também. Por exemplo, os portos estão nas mãos do setor privado porque acreditamos que o Estado não precisa criá-los e operá-los. O objetivo de nossa administração é criar as condições para o setor privado florescer.

Você tem alguma mensagem específica que gostaria de enviar para a China?

Conheça melhor o Mato Grosso do Sul. Venha nos visitar. Eles são e sempre serão bem-vindos aqui, e podemos desenvolver muitas oportunidades juntos.

Link original: http://brazil.the-report.com/interview/eduardo-riedel/.

Publicado por: Ana Maria Almeida Niemeyer

Utilizamos cookies para permitir uma melhor experiência em nosso website e para nos ajudar a compreender quais informações são mais úteis e relevantes para você. Por isso é importante que você concorde com a política de uso de cookies deste site.